Lula, na OIT: “Nunca a justiça social foi tão crucial para a humanidade”

Lula, na OIT: “Nunca a justiça social foi tão crucial para a humanidade”

Aplaudido na 112ª Conferência Internacional do Trabalho, nesta quinta (13), em Genebra, Lula tratou de temas inapeláveis à humanidade no século 21: “Vamos semear a justiça e colher a paz que o mundo tanto precisa”

Ricardo Stuckert

Na OIT, Lula reage à concentração de renda no mundo: “Estamos falando de 3 mil pessoas que detêm quase US$ 15 trilhões” Foto: Ricardo Stuckert / PR




A caminho da Cúpula do G7, o presidente Lula participou, nesta quinta-feira (13), da 112ª Conferência Internacional do Trabalho, realizada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, na Suíça. Convidado pelo presidente-geral da OIT, o togolês Gilbert Houngbo, para liderar a inauguração do Fórum Coalizão Global pela Justiça Social, Lula foi aplaudido, em diversos momentos, pelo discurso contundente abordando questões centrais à classe trabalhadora, em especial, a concentração da renda nos países em desenvolvimento e as transições energética e digital.

No púlpito da OIT, a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para o trabalho, o presidente deu o tom de como serão seus discursos tanto na Cúpula do G7 – da qual o Brasil participa como convidado, nesta sexta-feira (14), na Itália – quanto na presidência rotativa do G20, em novembro, e na COP30, a ser realizada na cidade de Belém, no Pará, em 2025. “Vamos semear a justiça e colher a paz que o mundo tanto precisa”, instou.

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Lula tornou a defender a taxação das grandes fortunas, proposta encampada pelo Brasil no G20, o grupo das 20 maiores economias do mundo, como forma de amenizar as desigualdades sociais e enfrentar as consequências das mudanças climáticas. “Nunca antes o mundo teve tantos bilionários. Estamos falando de 3 mil pessoas que detêm quase US$ 15 trilhões”, condenou.

“Isso representa a soma dos PIBs do Japão, da Alemanha, da Índia e do Reino Unido. É mais do que se estima ser necessário para os países em desenvolvimento lidarem com a mudança climática”, constatou o presidente.

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Em referência ao sul-africano Elon Musk, que chegou a tentar interferir na democracia brasileira, Lula criticou a ganância do bilionário dono da Tesla e a indiferença dele para com a classe trabalhadora. “A concentração de renda é tão absurda, que alguns indivíduos possuem seus próprios programas espaciais, certamente tentando encontrar um planeta melhor do que a Terra, para não ficar no meio dos trabalhadores, que são os responsáveis pela riqueza dele”, criticou, antes de ser ovacionado.

“Não precisamos buscar saída em Marte, é a Terra que precisa do nosso cuidado. Ela é a nossa casa, ela é o nosso mundo”, completou, ainda sob aplausos.

Transição ecológica

No atual contexto das mudanças climáticas, o presidente Lula defendeu que os países industrializados arquem com o preço do aquecimento global, produzido, afinal, por eles mesmos. “Muita gente não leva em conta que embaixo de cada árvore que a gente quer preservar tem um indígena, tem um pescador, tem um seringueiro, tem um extrativista e tem uma pessoa precisando de salário”, enumerou.

“Por isso os países ricos precisam pagar a conta para que os pobres possam sobreviver cuidando da Amazônia que eles não cuidaram quando deveriam cuidar. As florestas tropicais não são um santuário para o deleite da elite global. Tampouco podem ser tratadas como depósito de riqueza a serem exportadas”, rebateu.

Lula prometeu ainda zerar o desmatamento na Amazônia até 2030. Desde que o petista assumiu a Presidência da República, no início de 2023, as taxas de desflorestamento já despencaram 62%, menor índice desde 2018, segundo imagens de satélite do instituto de pesquisa Imazon.

“Ninguém pediu. Nós temos um compromisso. É um compromisso de fé. É o meu compromisso com o Brasil (…) para que a gente possa mostrar ao mundo que nós estamos cumprindo com as nossas obrigações e vamos esperar que os outros países cumpram com as deles”, assegurou.

Sul Global

Sobre o advento da inteligência artificial (IA) e suas consequências inevitáveis para a classe trabalhadora, o presidente Lula enfatizou a urgência de se democratizar as tecnologias, mitigando as discrepâncias entre o hemisfério norte e o chamado Sul Global, onde estão os países em desenvolvimento. “Precisamos de uma nova globalização, uma globalização de face humana”, pediu.

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“Nas revoluções industriais anteriores, aprendemos que inovações tecnológicas podem ampliar os horizontes da humanidade, mas foi a luta do povo trabalhador que disciplinou e democratizou o seu uso. A inteligência artificial transformará radicalmente o nosso modo de vida. Teremos que atuar para que seus benefícios cheguem a todos e não apenas aos mesmos países que sempre ficam com a parte melhor.”

Na avaliação de Lula, a reforma das instituições de governança global contribuirá para o progresso dos países em desenvolvimento. “Por isso, o Brasil vai trabalhar pela ratificação da emenda de 1986 à Constituição da OIT, que propõe eliminar os assentos permanentes dos países mais industrializados no conselho da organização”, disse o presidente.

“Não à guerra”

Em meio aos conflitos no Oriente Médio, no leste europeu e em outros continentes, Lula se disse incondicionalmente a favor da paz. “Não à guerra na Faixa de Gaza. Não à guerra na Ucrânia”, pregou. O empenho de cifras astronômicas nas hostilidades, para Lula, é extemporâneo, frente as adversidades a serem vencidas no século 21.

“O ano de 2023 viu os gastos com armamentos subir 7% em relação a 2022, chegando a uma soma de US$ 2,4 trilhões. A irracionalidade do conflito na Europa reacende os temores de uma catástrofe nuclear. Em Gaza, há mais de 37 mil vítimas fatais, a maioria são mulheres e crianças. Esse conflito também acumula o triste recorde de mortes de trabalhadores humanitários. Por isso, é importante afirmar: o mundo precisa de paz e de sobriedade e não de guerra.”

Lula lembrou dos trabalhadores enviados aos campos de batalha, sem a certeza de que regressarão. “Foi assim na Primeira Guerra Mundial, de cujos escombros saíram a Liga das Nações e a própria OIT. A Segunda Guerra Mundial terminou com 70 milhões de mortos, 3% da população da época”, argumentou.

Proteção ao trabalhador

As medidas tomadas pelo governo federal para proteger o trabalhador brasileiro também foram incluídas no discurso do presidente em Genebra. Lula lastimou as denúncias de trabalho escravo no país durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “No meu terceiro mandato, tenho renovado compromisso com o mundo do trabalho. Tenho certeza que retomamos as políticas de valorização do salário mínimo, de erradicação do trabalho infantil e de combate às formas contemporâneas de escravidão”, lembrou.

“Aprovamos uma lei sobre igualdade de remuneração entre homens e mulheres (…) Também estamos formulando um plano nacional de cuidados, que considera a desigualdade de classe, de gênero, de raça, idade, deficiências e territórios, com olhar especial para o mundo do trabalho doméstico”, enumerou.

O presidente do Brasil fez menção ainda a um documento referendado em 10 de maio de 1944, nos Estados Unidos, e que reafirmou os compromissos tradicionais da OIT no pós-guerra. “É central resgatar o espírito da Declaração da Filadélfia, adotada 80 anos atrás. Nela, consignamos que o trabalho não deve ser tratado como mercadoria, mas sim como fonte de dignidade. O bem-estar de cada um depende do bem-estar de todos.”

Da Redação, com OIT

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