Gleisi: “Campos Neto não tem sequer resquício de autoridade para comandar o BC”
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Revelação de que bolsonarista faz campanha por Tarcísio para ser ministro da Fazenda desmoraliza de vez presidente da autarquia: “Ficou escancarado agora”, diz presidenta do PT, para quem Neto sempre foi político
Site do PT
O jornal Folha de S. Paulo confirmou, na quarta-feira (12), o que o site do PT vem denunciando há pelo menos um ano e meio: além de bolsonarista desavergonhado, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (BC), atua como porta-voz remanescente do neoliberalismo fracassado da Escola de Chicago de Paulo Guedes. De acordo com o diário, Neto, que se diz um “técnico” do BC, sinalizou ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que aceitaria ser seu ministro da Fazenda, no caso de o extremista disputar as eleições presidenciais.
Intocável no cargo que ocupa, o presidente do BC atua à luz do dia como um soldado da extrema direita, a despeito de ter seis meses pela frente no cargo e precisar cumprir outros seis de quarentena após o fim do mandato.
Mais uma vez, a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann foi às redes sociais escancarar o que seria um escândalo em qualquer país do mundo: ele nunca foi um técnico à frente do BC. Para ela, Campos Neto “aposta na deterioração da economia do país (que ele faz de tudo para atrapalhar) para favorecer o candidato de Jair Bolsonaro”.
“E o cara ainda está sentado na cadeira de presidente do BC!”, espantou-se Gleisi, pela rede “X”. “Quando a gente diz que ele é político, jamais um técnico, ficou escancarado agora. Campos Neto não tem sequer resquício de autoridade para comandar o BC”, condenou. “Isso é que é a tal “autonomia” do Banco Central”.
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“Caiu a máscara”, anunciou o deputado federal Lindbergh Farias, também pelo “X”. “Quero ver defenderem esse cara como técnico. Não tem independência política, nem técnica. É um agente do bolsonarismo e do mercado para sabotar o governo do presidente Lula”, reagiu o petista.
Consultor informal de Bolsonaro na campanha
Em vídeo nas redes sociais, Lindbergh lembrou que Campos Neto agiu como uma espécie de consultor informal da campanha de Bolsonaro em 2022. “[Ele] orientava com pesquisas, foi votar com a camisa da Seleção Brasileira. E posa de técnico”, apontou Farias, chamando atenção ao fato de que Campos Neto faz a mesma coisa agora. Segundo a Folha, o bolsonarista aconselhou Tarcísio a não ser candidato em 2026, pois o cenário econômico, segundo ele, tenderia “a se deteriorar”.
O deputado defende que o bolsonarista seja afastado do comando da autarquia. “Ele não tem independência política, porque é um bolsonarista, e não tem independência com o sistema financeiro, ele atua para o sistema financeiro, para os bancos”, denunciou.
O deputado Nilto Tatto (PT-SP), expôs a desmoralização da instituição pela atuação “técnica” de Campos Neto no comando do BC. “Banco Central Independente, pero no mucho”, ironizou Tatto.
Mídia reage: Campos Neto foi longe demais?
Até a mídia corporativa – com poucas exceções, porta-voz do capital financeiro e defensora do terrorismo fiscal como estratégia para enquadrar o presidente Lula à receita de cortes de gastos sociais e de juros estratosféricos a fim de manter a farra rentista – sinaliza que Campos Neto está passando dos limites.
“Nada proíbe que esse banqueiro central desfile com seus aliados, amigos e afinidades partidárias”, observou Bruno Boghossian, na Folha. “O problema começa a aparecer quando essas relações passam a fazer parte de um projeto político”.
O jornalista equiparou a atuação do bolsonarista à do ex-juiz Sergio Moro, atualmente senador justamente por ter lado político quando não deveria. “Se a comparação com Sergio Moro é inevitável, a hipótese de Campos Neto tem um agravante: o plano é traçado enquanto o chefe do BC ainda está sentado na cadeira, com pretensões que dependem, necessariamente, do sucesso da oposição”, alertou.
Já o Estadão recorreu a um editorial para passar uma descompostura no protegido por suas últimas movimentações, ainda que de modo brando, dada a gravidade do escândalo. O jornal fez referência à última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que expôs uma divisão entre os diretores sobre a definição da magnitude do corte na taxa de juros e que contou com o voto decisivo de Campos Neto.
Para o jornalão, o impasse “pode sugerir alguma forma de cisão política dentro do BC. É possível que tenha sido apenas uma coincidência, mas a desenvoltura de Campos Neto entre os bolsonaristas não ajuda a dissipar as dúvidas e desconfianças. Ao contrário, as acentua”.
Da Redação, com Folha