Caixa-preta do avião da Voepass gravou gritos e pergunta do copiloto sobre 'dar potência' à aeronave
O gravador de voz da cabine do avião ATR-72 que caiu emVinhedo (SP) na última sexta-feira (9) registrou conversas docopiloto sobre "dar potência" à aeronave minutos antes da queda, alémde gritos na aeronave.
As informações foram obtidas com exclusividade pelo Jornal Nacional. Oacidente provocou a morte de todas as 62 pessoas que estavam na aeronaveoperada pela Voepass, antiga Passaredo, incluindo os quatro tripulantes.
As cerca de duas horas de transcrição foramfeitas pelo laboratório de leitura e análise de dados do Centro de Investigaçãoe Prevenção e Acidentes (Cenipa), vinculado à Força Aérea.
Segundo os investigadores, a análise preliminar dos dados indica que oATR 72-500 perdeu altitude de forma repentina. Além disso, aponta que a análisedo áudio da cabine, sozinha, não é capaz de cravar uma causa aparente para aqueda.
Conversa do copiloto, gritos eestrondo
A transcrição do áudio da caixa-preta mostra que, ao perceber que oavião estava perdendo sustentação, o copiloto Humberto de Campos Alencar eSilva perguntou o que estava acontecendo.
Ele disse que era preciso "dar potência" – uma tentativa deestabilizar a aeronave e impedir a queda. Mas isso, infelizmente, não foipossível.
Cerca de um minuto se passou entre a constatação da perda de altitude eo choque do avião contra o solo. Neste tempo, segundo os investigadores, oáudio registra que a tripulação tentou reagir.
A gravação é finalizada com gritos e com o estrondo do choque daaeronave contra o chão.
Causa ainda é investigada
O ATR 72-500 tem as hélices da parte de cima da fuselagem muito próximasda cabine de comando. Segundo investigadores, isso provocou muito barulho eaumentou a dificuldade para decifrar os diálogos gravados.
Mesmo assim, em uma análise preliminar, o Cenipa não identificou sonscaracterísticos de alertas que poderiam "guiar" a investigação sobreas causas, como o alarme de presença de fogo, falha elétrica ou pane no moto.
Os dados da caixa-preta, nessa primeira avaliação, ainda não permitemconfirmar ou descartar a principal hipótese levantada pelos especialistas nosúltimos dias: a de que o avião teria caído em razão da formação de gelo nas asas, seguidade uma perda de estabilidade("estol", no jargão).
A confirmação da causa do acidente vai depender da análise de maisregistros das caixas-pretas e da combinação de todas essas informações.
O relatório preliminar sobre o caso deve ficar pronto em 30 dias. Nesseprazo, os investigadores esperam desvendar o "contexto" da tragédia,considerado nebuloso até o momento.