Obesidade e insolvência dos sistemas de saúde

Obesidade e insolvência dos sistemas de saúde


Dentre os dados de forterelevância fornecidos pelo último censo brasileiro, está o aumento percentualde 41,6 % da população com mais de 65 anos na última década, enquanto apopulação geral o fez em 7,6 %, aumento substancial na faixa etária mais associadaàs doenças crônicas e menor expressão produtiva.

No mesmo intervalo, a taxa média de crescimentoanual da população brasileira é de 0,52%, a menor já registrada desde 1872,números patrocinados enormemente pela redução acentuada da taxa de natalidade, continuamentedecrescente.

Em considerações oportunas, agora utilizando dadosdo Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicaspor Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2021, estima-se que 22,4% da populaçãocom mais de 18 anos é obesa e se consideramos apenas os adultos com mais de 65,o percentual é semelhante, 21,8%.

A mesma investigação anota a prevalência média de26,8% de hipertensão arterial e 9,1% de diabetes nos brasileiros com 18 anos oumais, porém, naqueles do grupo etário com mais de 65 os percentuais aumentamsensivelmente, pois, 61% são hipertensos e 28,4% diabéticos.

Assusta observar 11,8% de adultos obesos em 2006 e22,4% em 2021, assim como, o aumento de 5,7% para 9,1% na prevalência dediabetes no mesmo período. Embora essa variação paralela valide a fortíssimarelação causal entre obesidade e diabetes tipo 2, demonstra que oaconselhamento de mudanças de hábitos, embora com obediência mensurável nãodesprezível, nem mesmo estabilizou os números da obesidade brasileira.

Enquanto alguns estudos sugerem que entre 30 e 40 %do total de infartos ocorram em paciente diabéticos, uma pesquisa publicadarecentemente no "Journal of the American Heart Association" encontrousinais de coronariopatia em 33,4 % daqueles portadores de diabetes tipo 2 “sem”antecedentes cardiovascular.

Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)mais de dois terços dos óbitos por doenças cardíacas ocorrem em portadores dediabetes e mais de 80% das mortes em diabéticos estão relacionadas a problemascardíacos e/ou renais.

Além de robusto alicerce para as desordensmacrovasculares, o diabetes é a principal causa de cegueira e insuficiênciarenal crônica dado o extenso comprometimento microvascular (microcirculação) emseus portadores.

As doenças cardiovasculares detêm posto de vorazconsumidor de recursos nas gestões de saúde, contando com planejamentos sólidose impérios orçamentários entregues para a detecção e cuidados destas patologiase seus desfechos, contudo, o enfrentamento das nascentes deste cenário éconduzido com inexplicável frieza.

A obesidade é o mais profícuo nascedouro para odiabetes e perde apenas para o cigarro na relação com canceres, sendo causadireta de inúmeras patologias, além de dificultar o tratamento da hipertensão.

Ainda que pudéssemos observar a realidadebrasileira por muitas outras lentes, os apontamentos supracitados agregamconteúdos para conclusões inequívocas, com a mais óbvia anotando a transiçãoiminente do bônus para o ônus demográfico, seguida da constatação de inevitávelinsolvência de nosso sistema de saúde pública e igualmente da maior parte dosperfis atuais de saúde privada, se forem mantidas as estratégias atuais.

As operadoras de saúde observando seus balanços eperspectivas, acenam com a criação de departamentos destinados a orientação deseus usuários e colaboradores na prevenção de moléstias.

Nossa saúde pública persegue a priorização daprevenção desde a homologação do SUS, com a excelência vacinal e a criação doVigitel tomando considerável espaço neste objetivo, todavia, para evitar agalopante obesidade precisamos mais que orientações comportamentais.

E enquanto não destilamos antídoto impediente doganho de peso, em retórica quase religiosa anoto ser inadiável e obrigatório aoferta universal de medicamentos e/ou cirurgias para o tratamento da obesidade,sob o iminente risco de nos tornarmos um país obeso, diabético, hipertenso e setivermos sorte, também envelhecido, entretanto, impagável!

* Doutor em Endocrinologia pela Faculdade de Medicinada Universidade de São Paulo (USP) e membro da Sociedade Brasileira deEndocrinologia e Metabologia (SBEM).

 

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