Vamos praticar a felicidade?
Vamos praticar a felicidade?
A felicidade eudaimônica se baseia no que eu posso cultivar em mim e oferecer às outras pessoas. Tem a ver com propósito de vida, com as relações e conexões interpessoais
Por
Angélica Banhara
Amanhã, 20 de março, é o Dia Internacional da Felicidade. A tal felicidade, que é tema de cursos até na Universidade de Harvard (EUA), título de centenas de livros e objeto de desejo de todos nós.
Mas, afinal, o que é felicidade? Você se considera feliz?
Para Rodrigo de Aquino, especialista em Psicologia Positiva, felicidade e bem-estar, existe uma confusão entre felicidade e satisfação. E ele explica a diferença a partir de dois termos da filosofia grega: hedonia e eudaimonia.
— Nós aprendemos que a felicidade é individual — diz Aquino.
O que nos remete à felicidade hedônica, baseada na aquisição, nos prazeres, no que eu consigo e conquisto do mundo: o que compro, o que consumo. É a felicidade que depende de algo externo, que o outro pode me proporcionar. Um exemplo: “Só serei feliz se ele me amar”. Ou: “Quando conseguir aquele cargo ou comprar aquela casa, serei feliz”.
A felicidade eudaimônica vai no sentido oposto: se baseia no que eu posso cultivar em mim e oferecer às outras pessoas. Tem a ver com propósito de vida, com as relações e conexões interpessoais. Não traz uma sensação imediata, como o prazer ao comprar um carro, mas tem a longevidade de algo construído a partir de laços com o outro. E está ligada à realização pessoal.
A perspectiva eudaimônica traz mais independência para a conquista da felicidade, porque é baseada nas nossas virtudes e depende do que nós podemos trazer ao mundo.
— A felicidade anda de mãos dadas com as relações humanas. Ela anda ao lado do amor, da amizade, da família, da sociedade. Mas não há mal nenhum em buscar a felicidade individual — diz Aquino.
Ele defende que a felicidade individual deve começar pelo autoconhecimento, pela autopercepção, pelo entendimento de onde estão as nossas forças, nossas qualidades e nossas fraquezas.
Essas felicidades não são antagônicas, mas se complementam.
— Não temos que abrir mão de uma em detrimento da outra. É importante brindar nossas conquistas, mas lembrar que existem coisas e relações que são superiores e devem ser cultivadadas, sustentadas e mantidas.
Para Luis Gallardo, presidente da plataforma global World Happiness Foundation, a felicidade é um componente fundamental para o bem-estar que influencia todos os aspectos de nossa vida.
A boa notícia é que a felicidade pode (e deve) ser cultivada. Como?
Gallardo propõe começar pelo autoconhecimento e pela autoaceitação.
— Quanto mais você se conhece, mais fácil é identificar o que realmente o faz feliz e o que pode estar impedindo sua felicidade. E isso se dá a partir da percepção dos seus valores, interesses, habilidades e limitações — diz.
Para Tal Ben-Shahar, israelense e professor de Ciência da Felicidade na Universidade de Harvard (EUA), a felicidade é a combinação do bem-estar físico, emocional, intelectual, relacional e espiritual. Isso significa que essas cinco dimensões de comportamentos podem ser trabalhadas para uma vida mais feliz.
Gallardo concorda e destaca a importância de cuidar do bem-estar físico e mental.
— Corpo e mente saudáveis proporcionam equilíbrio e bem-estar. Priorize o autocuidado, com exercícios regulares, uma alimentação saudável, sono adequado e tempo para relaxamento e lazer. Cuide também da sua saúde mental, praticando técnicas de gerenciamento de estresse e buscando apoio quando necessário.
Rodrigo de Aquino sugere três maneiras de cultivar a felicidade no dia a dia.
Pratique a gratidão
Reserve alguns minutos todas as manhãs ou antes de dormir para identificar coisas simples que aconteceram recentemente pelas quais você é grato. A gratidão ajuda a direcionar o foco para aspectos positivos da vida, aumentando a sensação de felicidade.
Medite/respire
Dedique um tempo diariamente para a prática de meditação/mindfulness (atenção plena). A meditação e os exercícios respiratórios ajudam a acalmar a mente, aumentam a consciência do momento presente e promovem um maior entendimento de si mesmo, o que pode levar a uma maior sensação de felicidade e contentamento. Vários aplicativos gratuitos oferecem meditação guiada (Insight timer, 5 minutos, Lojong, Meditação Natura). Você pode começar com 5 minutos por dia.
Cultive os relacionamentos
Dedique tempo e energia a relacionamentos que são significativos para você: procure passar mais tempo com amigos e/ou familiares com quem você tem afinidade e participe de atividades comunitárias. Relacionamentos saudáveis e positivos são um dos pilares da felicidade duradoura.