Os riscos do Whatsapp para crianças e adolescentes

Os riscos do Whatsapp para crianças e adolescentes

Escola de São Paulo alerta famílias sobre grupo que disseminava pornografia e discurso de ódio

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O Colégio Dante Alighieri, de São Paulo, emitiu um alerta para famílias: foi descoberto um grupo de Whatsapp chamado Meta 500, onde alunos do 5º ao 9º anos trocavam mensagens e postagens com fotos, figurinhas e gifs pornográficos, fotos de facas afiadas, incitação ao suicídio e apologia ao nazismo. Entre os membros há vários números de telefones desconhecidos, inclusive de outros estados e países.

Na descrição do grupo há a seguinte mensagem: “Não adicione sua família, só amigos e amigas”. Pois é: crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos.

O colégio recomenda que os pais “solicitem a seus filhos que saiam o mais rápido possível desse grupo de WhatsApp". E alerta para os riscos:  pessoas mal-intencionadas podem entrar em contato com os alunos propondo desafios perigosos, solicitando o envio de fotos íntimas ou dinheiro por meio de ameaças. E relembra que o compartilhamento de conteúdo inadequado e ofensivo em ambientes virtuais coloca em risco seus participantes pela exposição dos dados pessoais de cada um.

O colégio demonstra uma justa preocupação com seus alunos e lembra que quando o grupo é formado por menores de idade, a responsabilidade do conteúdo recai sobre os pais, que se tornam corresponsáveis pela publicação. Avisa que vai orientar os membros do grupo sobre a gravidade do problema, e recomenda aos pais que acompanhem e monitorem a vida digital de seus filhos, dialogando com eles sobre esse assunto. E que busquem orientá-los para que, caso recebam algum conteúdo inadequado no celular, comuniquem o fato imediatamente à família, pedindo aos responsáveis que em seguida compartilhem essa informação com a escola.

Uma história como essa demonstra a importância crucial de supervisionar a vida digital das crianças e adolescentes. E incluir nessa vigilância o “inocente” WhatsApp. Trata-se de um aplicativo de mensagens, mas também é uma rede social, com todos os riscos que elas incorrem.

 O WhatsApp só poderia ser usado por maiores de 13 anos, conforme seus termos de uso. Mas na prática, o aplicativo é povoado por inúmeras crianças e adolescentes, a partir de 8 ou 9 anos inclusive. As famílias acabam permitindo porque senão “eles ficam de fora das conversas e atividades do grupo”. Além do que há escolas que se comunicam com alunos usando o app, o que é inadequado.

 Pessoas desconhecidas frequentemente se infiltram em grupos de WhatsApp e Telegram (este é ainda pior) para não só efetuar golpes, mas também disseminar conteúdos de ódio e ideologias horrendas como nazismo e fascismo, misoginia, homo e transfobia, racismo e antissemitismo ou islamofobia. Sabem como fisgar os jovens: com humor e memes engraçados, mas recheados de ódio e intolerância. Os mais vulneráveis, frágeis, isolados, são os mais suscetíveis à cooptação, como expliquei na coluna sobre ataques a escolas. Ali vão encontrar reconhecimento e pertencimento, e serão facilmente convencidos a esconder isso dos pais. É comum esses criminosos levarem as crianças e adolescentes fisgados no WhatsApp para outras plataformas, como o Discord, fértil em comunidades de ódio.

Os próprios adolescentes, muitas vezes sem perceber e com mais ou menos consciência dos danos e dos perigos envolvidos, se envolvem em situações de invasão de privacidade, quebra de intimidade, ofensas, agressões, cyberbullying e ataques a professores.

 Não é o caso de “solicitar que os filhos saiam do grupo”, como recomenda o colégio. E sim de usar de sua autoridade parental – sempre de forma dialógica, respeitosa, mas firme – e exigir que saiam. Permanecer nesse ambiente seria expor seus filhos a enormes perigos e muita toxicidade.

 Os pais devem sim ter a senha do celular e dos aplicativos que seus filhos usam e monitorar seus contatos, as mensagens nos grupos e individuais, em busca de atividades de risco, possíveis golpes ou de cooptação de ideologias do ódio. É possível fazer isso respeitando até certo ponto a privacidade dos adolescentes. Não é preciso ler em detalhes as mensagens que troca com amigos ou namorados/as, mas é indispensável monitorar e orientar. E explicar a ele que precisam fazer isso, pois ele ainda não tem discernimento suficiente para avaliar os riscos que está correndo. É preciso também  atenção a sinais como isolamento social, muito tempo sozinho no quarto, discursos intolerantes, memes racistas, interesse por conteúdos violentos ou tristeza recorrente.

 A parceria entre famílias e escola é muito importante, tanto no encaminhamento de situações concretas como essa, como na educação digital. É preciso ajudar os alunos a entenderem os problemas e os benefícios da vida digital. Questões como privacidade e intimidade, violência e cyberbullying, o funcionamento dos algoritmos, a disseminação de fake news, teorias conspiratórias, negacionismo e ideologias extremistas, ódio e intolerância devem ser objeto de discussões pedagógicas. É preciso ajudá-los a entender a importância de respeitar o sono, as atividades físicas, as relações no mundo real, as conversas, o esporte, a leitura. Além de trabalhar pela cultura da paz, promovendo atividades participativas e colaborativas, desenvolvendo habilidades socioemocionais, e trabalhando conteúdos como cultura e história afro-brasileira, antirracismo, Holocausto, equidade de gêneros, diversidade e outros.

A iniciativa do governo federal de reunir um grupo de especialistas (no qual participo) com representantes de diversos órgãos e ministérios para criar um guia de orientação para famílias sobre uso de telas e vida digital na infância e adolescência se mostra cada vez mais oportuna. E claro, sempre lembrando a necessidade urgente de regulamentarmos as redes sociais por lei.

 Tudo isso dá muito trabalho para famílias e escolas, já sobrecarregadas. Mas é preciso entender que a internet e seus territórios representam a maior ameaça à integridade e à saúde física e emocional de crianças e adolescentes hoje em dia. É preciso dar prioridade a esse esforço.

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